Fragmentária

de Ana Claudia Araújo de Lima Antes de abrir os olhos, senti na boca o gosto amargo que vinha do estômago e ouvi sua voz firme e carinhosa chamando meu nome: – Está na hora de acordar. Fiz um chá de cidreira para você. Tem que tomar enquanto está morno. Vem, vamos levantar e sair um pouco deste quarto! O corpo pesado parecia não ser meu. O quarto tinha pouca luz e era pequeno, mas hoje parecia menor ainda. Estranhei o silêncio da casa e logo imaginei que meus irmãos deviam estar na escola. Mamãe não me acordou porque devo ter passado mal durante a noite. O lado bom de ficar doente é poder estar com ela por mais tempo e só para mim. – Estou fazendo uma canjinha bem aprumada para o almoço. A galinha já está no vinho d'alho e daqui a pouquinho vou colocar para cozinhar. A manhã já estava alta. Na cozinha, a luz do sol chegava mais intensa e o mormaço era mais forte, porque se juntava com a quentura vinda da brasa do fogão. O peso dos olhos sonolentos não me deixava abri-los ...