A Certeza do Querer

 


de Reni Felina da Silva Flegler


Perdida em seus pensamentos, vivia numa pequena cidade do interior uma mulher formosa e simples. Usava sempre vestidos curtos que realçavam ainda mais a beleza daquele corpo moreno.

Todos da pequena cidade a conheciam para além de sua beleza; também era conhecida por fabricar, com suas próprias mãos, sorvetes que eram deliciosos, amados pela garotada do bairro. Os sorvetes divinos eram o argumento usado em dias de sol por aquelas crianças para irem até a sorveteria.

Rosa vivia para o trabalho, não tinha tempo para o que suas amigas chamavam de “curtir a vida”. Sua vida era de casa para o trabalho e do trabalho para casa. A mãe de Rosa, vendo-a trabalhar tanto, em toda oportunidade que tinha, fazia questão de lembrar à Rosa que ela precisava arrumar um marido. A moça não gostava das cobranças, mas preferia manter o silêncio a começar uma guerra com a mãe. No fundo, mas sem dizer, a mãe admirava a determinação e o esforço da filha, que, com seu trabalho, garantia o seu sustento e o de toda a sua família. 

Havia clientes que faziam questão de dizer que amavam o sorvete, mas que, unido a isso, o diferencial daquela sorveteria era o fato de ser recebido com um grande sorriso dado por aquela moça que, quando sorria, parecia fazer o sol se abrir. Mesmo em dias chuvosos, ela sorria sim! Ela estava sempre feliz, é difícil acreditar que a alegria era parte de todos os dias daquela jovem, fizesse chuva ou sol, ela dizia “bom dia” com aquele sorriso largo no rosto. 

Numa tarde de domingo, lá estava ela fazendo o que sempre fazia, atendendo seus clientes em sua sorveteria, afinal, os domingos eram os dias de maior movimento, pois era dia de missa e, ao fim da missa, as famílias tinham endereço certo, elas iriam para a sorveteria que era a referência do melhor sorvete da cidade.

A porta se abriu e seus olhos viram um moço forte, alto e de uma beleza que fez com que a atenção de Rosa ficasse ali, observando cada passo que aquele moço dava em sua direção. Havia Rosa encontrado o amor? Sabe aquele amor que dizem que acontece à primeira vista? Difícil saber, mas no que ela não parava de pensar era naquele moço, tentou de todo modo descobrir quem ele era, filho de quem, onde morava… fuçou e fuçou até descobrir que ele era o Marcos, filho de Dona Aurora, que morava na capital e estava na cidade para visitar a mãe. Ela sabia que a passagem do moço pela cidade era rápida, pois em breve ele retornaria para a vida que ele tinha longe dali. Saber disso, no entanto, não impediu que ela se aproximasse dele, que o beijasse e que ela pudesse se entregar ao desejo de tê-lo, nem que fosse por pouco tempo.

A moça viveu aquele romance, se entregou a tudo o que sentia naquele momento e, ao se entregar, descobriu que o rapaz também a queria, talvez até mais do que Rosa poderia querer. O moço a quis tanto ao seu lado, que não hesitou em fazer o convite para que ela fosse embora com ele. Mas ir embora com ele significava que ela deixaria para trás a sua vida, família e sua paixão, que era o seu negócio. Mesmo em conflito, Rosa disse que pensaria com calma na proposta e que daria a resposta antes do dia da partida de Marcos.

Ela pensou em todos os seus anos vividos até ali, pensou em tudo que ela deixaria. A moça até então nunca havia viajado para tão longe, que não fosse para a cidade ao lado.

Marcos, certo de que ela partiria com ele, a esperou na frente da porta da casa de sua mãe um dia antes de sua partida. Ele esperou, esperou e esperou, até que a madrugada chegasse com um som de uma mensagem. Aflito, olhou para o telefone na esperança de que fosse um retorno de Rosa. Era a moça, sim, dizendo a ele que não aceitaria sua proposta; afinal, antes dele, ela já tinha sua vida, suas paixões e, no fim, a resposta era um “Não”. Marcos entendeu o recado, engoliu o choro e foi arrumar sua mala.


CONHEÇA A AUTORA


Reni Felina da Silva Flegler

Meu nome é Reni, tenho 30 anos e sou uma mulher apaixonada pela vida que ama viajar, ler, praticar atividade física, além de amar estar com quem eu amo.

Para conhecer mais sobre o projeto onde esse conto foi desenvolvido acesse o perfil do Grupo Beta de Teatro e da atriz e escritora Lorena Lima.

A 2ª edição da Oficina de Produção de Contos Femininos Autoficcionais, onde esse conto foi desenvolvido, é uma ação cultural aprovada no Edital nº 04/2023 – Valorização da Diversidade Cultural Capixaba, fomentada na Linha 3: Incentivo à Leitura, da Secretaria da Cultura (Secult).


Comentários

  1. Que bonito ler uma personagem que vai ganhando força em seu querer e que me leva a refletir sobre os meus, também. Em não abandoná-los e nem desistir. Conto bonito demais. Parabéns, Reni.

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  2. esse conto me provoca sentimentos diversos. o "e se" que me deixa na angústia e na expectativa kkk mas também um alívio de ficar em paz com o que se decide... 💛

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  3. Uma mulher lendo e ao final só desejando ser um pouco Rosa... rs. Amei o conto! Um não com convicção tão mais pacificador do que um sim duvidoso...

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  4. Esse conto é sobre (re) encontrar o amor ❤️

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