O Pé de Bananeira
de Weslane da Silva Santos
Saiu de casa sem casar. Depois de tanto estudar, exercia a profissão que amava. Sua mãe sentia orgulho da mulher independente que ela havia se tornado, mas Regina ainda fazia muitas perguntas e, por não encontrar respostas, teve medo enquanto encaixotava o pouco que lhe pertencia.
Foi morar no alto. Havia uma parede vermelha, cheiro de eucalipto e da janela se via verde, azul e rosa. Ainda não se sentia em casa. Chorou. Não pertencia àquele lugar, mas fazia poesia para parar de chorar.
Enquanto experimentava poesiar, reconheceu que sua casa é onde o seu coração está, lembrou que já morou em tanto lugar: em abraços, sorrisos e canções. Acreditou que era o seu próprio lar, não teve mais dúvida: ali também seria a sua casa! Colocou as fotos no lugar, pendurou quadros e bilhetes, arrumou a sala com um tapete; na parede vermelha, agora tinha verde. Trouxe música, cheiro de alecrim e manjericão (suspirou) e aprendeu a fazer pão.
A chuva trazia o cheiro de terra molhada que lhe lembrava sua infância no quintal da casa onde foi criada, cheiro de terra molhada e eucalipto se misturavam e pôde respirar aliviada: Aaah, a casa tinha cheiro de afeto!, pensou alto, é bom estar debaixo deste teto.
Mudar de casa obrigou Regina a cuidar de si mesma. Apesar da sua aparência frágil, ela acordava forte, bonita e brilhante, sentava-se todas as manhãs no tapete da sala e tomava café com calma.
Após o fim do verão, Regina recebeu um telegrama que solicitava uma resposta sua sobre voltar para a casa onde cresceu e da qual tanto sentia falta. Seu corpo encheu-se de angústia, pois ela não sabia o que decidir. Tinha construído um lar.
Numa tarde nublada, cansou-se de pensar sozinha. Subitamente arrumou-se e foi até a casa, onde encontrou a sua mãe sentada próxima à porta da cozinha que dava vista para o quintal, sentiu cheiro de café coado na hora e de terra que acabara de ser regada. Enquanto tomavam café, Regina contou para a mãe sobre a sua casa, da parede vermelha, das xícaras amarelas, das plantas e do pão que aprendeu a assar.
Sua mãe ergueu os olhos e lhe disse: Você não precisa voltar! aqui vai ser sempre o seu lugar, lá a sua também vai ser bonita. Respirou fundo aliviada e, de forma abrupta, perguntou: Mãe eu posso plantar uma bananeira no quintal? Apesar do estranhamento, sua mãe disse: bom, se couber, sim, e sorriu.
Regina começou a andar pelo quintal com os pés descalços e enquanto decidia onde ficaria a bananeira, sua mãe a convidou a escolher o jantar e rapidamente respondeu: galinha cozida.
Lembrou-se da saudade que sentia, das músicas de que não gostava e tocava ao fundo, do gosto do café e da comida, das risadas, do cheiro de casa e disse em voz alta: que bom que estou aqui!
Ao escolher o lugar onde ficaria a bananeira, sentou-se no chão. Com ajuda de uma pá de jardim, cavou um buraco e preparou a terra com as mãos; no buraco que fizera, acomodou a bananeira com cuidado, afofando a terra com as mãos. Levantou-se, passou as mãos sujas de terra na roupa e, após encher um balde de água, para molhar, gritou: Mãe, vem ver ! Sem dizer uma palavra, sua mãe olhou pela porta da cozinha e sorriu, aprovando o resultado.
Não foi preciso nenhuma palavra, o verde da bananeira entre
a luz do fim do dia afirmava-se. Era como um abraço.
CONHEÇA A AUTORA
Weslane da Silva Santos
Uma jovem senhorinha, que gosta de tomar café com calma, assitir anime, ler, escreve sobre o que passa por ela e que ama plantas. Atua como Terapeuta Ocupacional no campo Social. Aprende todos os dias que quase nada a define, ao mesmo tempo que é definida por inúmeras miudezas cotidianas e que acredita que tudo é poesia.
Instagram da autora: https://www.instagram.com/weslanesantoss/
Para conhecer mais sobre o projeto onde esse conto foi desenvolvido acesse o perfil do Grupo Beta de Teatro e da atriz e escritora Lorena Lima.
Instagram Grupo Beta de Teatro:
https://www.instagram.com/grupobetadeteatro/
Instagram Lorena Lima: https://www.instagram.com/lorenalima_atriz/
A 2ª edição da Oficina de Produção de Contos Femininos
Autoficcionais, onde esse conto foi desenvolvido, é uma ação cultural aprovada
no Edital nº 04/2023 – Valorização da Diversidade Cultural Capixaba, fomentada
na Linha 3: Incentivo à Leitura, da Secretaria da Cultura (Secult).
Que texto lindo e gostoso de ler, tem gosto de afeto em cada palavra
ResponderExcluirObrigadaaaaaa ❤️
ExcluirApaixonada, história com cheiro de saudade, medo do novo e descobertas💛
ExcluirConto belíssimo!
ResponderExcluirA experiência de escrever o pé de bananeira foi incrível. Tentei compartilhar aqui o lugar mais afetuoso que já estive!
ResponderExcluirAmei este conto, me transportou para a cena, me deu ate vontade de tentar escrever algo afetuoso assim para uma pessoa que sinto muito saudade.
ResponderExcluirUma leitura de pura sinestesia!
ResponderExcluir