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Mostrando postagens de dezembro, 2024

Celeste

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  de Daniela Rodrigues Viana Duarte Ela era magrinha. Com uns bons acessórios, se fazia alta, esbelta, andava por toda a cidade para compromissos e por lazer. Em tempos de secura, suas articulações rangiam por falta de hidratação; quando chovia, ficava exposta às sujidades que a água espalhava. Vivia para auxiliar as pessoas, acompanhava-as até seus destinos e aguardava quanto tempo fosse necessário para acompanhá-las de volta. A não ser quando, por ventura do descaso, outra pessoa demandasse sua serventia. Sua companhia era melhor aproveitada, em especial, pelas mulheres, é claro. O mundo feminino tende a esse poder de apoio mútuo, quando não são sequestradas de si e das suas, isso é um fato tanto na Terra quanto no extraplano. A Divindade, plenamente ciente disso, apresentou-lhe uma mulher que queria sair para conhecer o mundo, mas que se irritava com o que havia nele. Uma mulher que nem saía de casa, pois não dava conta de canalizar seus incômodos, tampouco de aproveitar o...

Entre Memórias e Sonhos

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de  Sabrina Tancredo Nogueira Ela chegou em uma tarde. Não esperava! Era linda, pequena e graciosa com cabelos em laranja e amarelo. Seus olhinhos vivos e inteligentes brilhavam. Ela veio guardada em uma bolsinha de pano marrom e ficavam de fora somente sua cabeça e bracinhos, dessa forma, ficava ainda mais bonita. Fiquei feliz demais! Foi a mãe do meu pai que morava muito longe que me mandou de presente. Não a conheço, tenho uma foto dela. É o que torna este presente mais especial! Depois desse dia, a Emília, minha mini boneca de pano, ia comigo para todos os lugares. Eu dormia e acordava com ela. Contava-lhe todos os meus problemas e segredos, os beliscões que levava da minha bisavó. Meus pais eram separados e eu morava com meus bisavós. Em frente à minha casa havia uma linha de trem muito ativa na época, minha irmã e eu passávamos o dia brincando nela. Nos equilibrávamos em seus trilhos, pulávamos de dormente em dormente; às vezes caíamos, mas aquela linha era nosso parque de di...

A Certeza do Querer

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  de  Reni Felina da Silva Flegler Perdida em seus pensamentos, vivia numa pequena cidade do interior uma mulher formosa e simples. Usava sempre vestidos curtos que realçavam ainda mais a beleza daquele corpo moreno. Todos da pequena cidade a conheciam para além de sua beleza; também era conhecida por fabricar, com suas próprias mãos, sorvetes que eram deliciosos, amados pela garotada do bairro. Os sorvetes divinos eram o argumento usado em dias de sol por aquelas crianças para irem até a sorveteria. Rosa vivia para o trabalho, não tinha tempo para o que suas amigas chamavam de “curtir a vida”. Sua vida era de casa para o trabalho e do trabalho para casa. A mãe de Rosa, vendo-a trabalhar tanto, em toda oportunidade que tinha, fazia questão de lembrar à Rosa que ela precisava arrumar um marido. A moça não gostava das cobranças , mas preferia manter o silêncio a começar uma guerra com a mãe. No fundo, mas sem dizer, a mãe admirava a determinação e o esforço da filha, que, com s...

O Pacto

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  de Mayara Rodrigues Soneghetti Dizem que o primeiro amor a gente nunca esquece. É o que nos marca, nos muda e nos molda por completo. Comigo não foi diferente. Mesmo que quisesse esquecer eu jamais conseguiria. Éramos dois adolescentes desabrochando como uma flor na primavera. Tínhamos a vida inteira pela frente, e nos amávamos com a urgência que só os primeiros amantes possuem. Ao nosso redor, tudo era vivo e cheio de cor, havia uma força invisível que nos atraía, como um ímã que atrai certos metais. Era domingo, o sol queimava nossa pele enquanto caminhávamos pelo pasto que tanto nos era familiar. Íamos em direção à árvore que nos acolhia com sua sombra em nossos encontros. Os pássaros eram nossas testemunhas. Juramos ali amor eterno. Ele, com as mãos em volta da minha cintura, me propôs um pacto: quando um morrer, o outro volta para buscar o que ficou. Concordei sem hesitar. Retirou do bolso o canivete que levava consigo, e marcou a árvore com dois corações cruzados, e nossas ...

Cindy das Nuvens

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  de Elenizia da Conceição Batista No reino chamado Imaginolândia, vivia uma princesa chamada Cindy Lopes. Ela andava olhando para o céu e imaginava como seria Deus, como ele podia ser tão grande? Ficava curiosa para saber como era a casa dele, se ele sentava numa cadeira gigante, se ele ficava com um pé no Brasil e outro no Japão, ou será que ele assistia tudo em TVs? E por falar em TV, ela gostava muito de assistir televisão, principalmente o Show da Xuxa, ela queria ser paquita, um sonho audacioso pra quem mal  tinha saído do reino. Vivia brincando com sua bolsa, onde colocava tudo que achava importante. Cindy era só, nunca teve um par. Ela usava muito a imaginação, e as plantas do jardim eram suas companheiras. Era primavera, Cindy foi caminhar pelos campos do reino e eles estavam cobertos de margaridas. Encantada com tanta beleza, resolveu se deitar sobre as flores, contemplando o céu, como era de costume, viajando nas nuvens, literalmente. Horas se passaram, ...