(te)Escrevo
Eu escrevo sobre o que me atravessa.
O que
me alcança, o que me lança, me aquece e me esfria.
Não
sei falar de fora para dentro, só sei expressar a poesia do meu eu, do interior
mais íntimo e intenso de mim.
Escrevo, não por narcisismo, ou somente porque quero. Escrevo porque vivo. Escrevo porque (é) preciso!
Daiana Scaramussa
Olá leitor(a), como vai você? Espero que esteja bem.
Como
tem muito tempo que não nos falamos, optei por lhe redigir esta carta, contando
um pouco sobre mim e sobre o que me fez chegar até aqui...
Bom,
não sei precisar ao certo quando, como e porque tomei gosto pela escrita, o
certo é que desde que comecei a escrever minhas primeiras letrinhas, por volta
dos cinco anos de idade, decidi não parar mais, e até hoje sigo essa jornada
literária, ainda sem livros escritos de fato, mas com incontáveis caracteres e
páginas desses capítulos da minha vida. E por falar em escrever, não sei se
posso me considerar uma leitora voraz, mas gosto de ler, não me importa se for
um Tweet com até 140 caracteres, ou um “textão”, como as pessoas costumam dizer
hoje sobre os textos com mais de cinco ou dez linhas. Leio placas, aliás, tenho
uma lembrança de quando criança, numa viagem, que eu reclamei com meu pai
porque ele estava passando muito rápido e não estava dando pra eu ler o que
estava escrito nas placas à beira da estrada; leio bula de remédios, leio
frases em camisas, leio grafites nos muros, leio livros (gosto das biografias e
dos livros baseados em fatos), leio árvores, leio pedras, leio céus estrelados,
leio pássaros pousados tranquilos descansando na grama embaixo de uma
castanheira à beira-mar... leio a poesia que muitas pessoas esqueceram de ler
por conta da poeira pesada e densa dos dias e da rotina que insiste em nos
massacrar.
Gosto de ler, e gosto ainda mais de escrever. Não sei se escrevo bem, mas quando começo, vou encontrando no meu universo literário o que pra mim parece ser a melhor palavra, o melhor enredo, o melhor desfecho e muitas vezes a melhor reflexão para aquele instante do qual escolhi falar. Ainda na infância, adorava escrever cartas, seja para o programa da Xuxa, onde geralmente a primeira frase era: “Oi Xuxa, meu nome é Daiana e eu sou sua fã número 1”, e depois discorria um texto todo carinhoso e cheio de sonhos para a “rainha dos baixinhos”, a quem eu imaginava conhecer um dia. Minha carta, perdida naquela montanha de outras tantas de tantas crianças (com seus sonhos, desejos e esperanças), nunca foi sorteada... ela nunca leu minha cartinha, e eu continuei escrevendo, mesmo com minha letra considerada feia por uma professora no primário, que me disse que eu deveria ser médica, porque minha letra não era bonita (uma professora que sem ter um pingo de sensibilidade, me deixou insegura quanto à minha letra por muitos anos – até o vestibular pelo menos, onde eu cheguei a treinar minhas redações em cadernos de caligrafia). E as cartas eu também as escrevia para minhas amigas, principalmente quando mudávamos de cidade (nossas mudanças eram frequentes por conta do trabalho do meu pai), e a cada cidade, eram cartas, cartas e cartas, que passavam frequentemente pelo olhar atento e cuidadoso da minha mãe, para que eu não incorresse em algum erro gramatical, ou até para evitar algum equívoco. Ah e eu também gostava de escrever para o jornal, na verdade para o suplemento infantil do jornal, escrevia minhas estórias, ilustrava e enviava, era uma emoção quando meu pai comprava o jornal de domingo e víamos que meu trabalho havia sido publicado, era um orgulho pra mim e acredito que para meus pais também, que deviam achar uma diversão a minha dedicação em querer fazer parte daquilo.
A escrita me seduz! Um texto bem escrito me arranca suspiros, me leva pra outro lugar, para outra dimensão, para um caminho que talvez eu nunca venha a percorrer, e que possivelmente eu não consiga alcançar, mas que me transporta e me inspira de uma forma inexplicável, como numa boa reportagem, numa matéria de jornal, quando o repórter consegue passar a notícia de uma forma poética, mas não menos informativa. É de fato um regozijo ler um bom texto. Penso que minha escolha pelo Jornalismo, como primeira formação acadêmica, tenha vindo dessa vontade de traduzir notícias em boas estórias, em discorrer sobre o cotidiano de uma forma literária. E foi a partir daí, dessa vivência (mesmo tendo atuado pouco tempo em jornalismo impresso), que passei a observar o cotidiano e escrever sobre ele. A partir do que via da janela do ônibus, do que lia num muro, do que ouvia numa rápida conversa entre dois passantes na avenida... e era instantâneo, o tema se apresentava à minha frente, e de repente, eu já estava escrevendo sobre aquilo e quando me dava conta, tinha em mãos o que muitos amigos que liam diziam ser uma “crônica do cotidiano”. Nunca tive coragem de publicar, a não ser nas minhas redes sociais, até porque sempre achei que faltava algo, ou que ninguém daria valor ao que eu escrevia. Mas segui e sigo escrevendo e guardando muitas vezes para mim mesma, para que eu possa ler, reler, reescrever e até (re)pensar sobre o que escrevi, como pensava e como muita coisa mudou.
E
foi neste contexto de gostar de escrever me fazer ler e ser lida, que veio a
possibilidade de participar da mostra de contos do Beta, pensei que poderia ser
uma forma de apresentar um pouco do que tenho a oferecer literariamente. Me
inscrevi quase nos últimos dias (se não no último dia), porque, apesar do
querer muito, ainda não tinha certeza se seria capaz de fazer algo à altura do
que a proposta apresentava. Quando li a lista dos selecionados e dos suplentes
inclusive, fiquei pensando: “gente... será que eu serei capaz mesmo? Será que
eles me escolheram de fato”? Senti o peso da responsabilidade e ao mesmo tempo
me senti grata por ter a oportunidade de participar daquele projeto, num
momento tão denso ao qual estávamos (e ainda estamos) vivendo. Muitas
incertezas me sondavam e muitas perguntas a serem respondidas, e entre elas, as
duas questões motivadoras/disparadoras da proposta: “O que te move? e O que te
paralisa?” Não são perguntas fáceis. Mas você pode responde-las de forma
rápida, ou pode refletir sobre, e encontrar ali não somente uma resposta
pronta, mas um caminho para outras tantas possibilidades. Optei por responder
ambas com: a arte, a natureza e a vida, tudo o que me move e me paralisa, num
mesmo lugar. O lugar da contemplação, o lugar da beleza e o lugar da evolução.
Arte, vida e natureza, tudo pra mim converge para o mesmo caminho, não há como
dissociar um do outro.
E assim produzi meu conto: percebendo a fragilidade da vida e toda sua finitude, observando a natureza em resposta àquele momento, e encontrando na arte a válvula de escape para recitar aquele poema triste que começava a ganhar forma na realidade que ora se apresentava para mim. O resultado foi o texto embrionário “Alaranjado céu”, que depois, foi desdobrado e resultou em “Tempos de Asfixia”. O primeiro, um pouco mais leve talvez, e o último, mais visceral, ou até mesmo panfletário. Mas era o que eu precisava falar, externar naquele momento. Era um grito de tristeza e um desabafo. Uma artista que precisava expurgar o que sentia e provocar uma catarse em si mesma (se é que existe esta possibilidade). No decorrer da escrita, as imagens se apresentavam quase que instantaneamente, facilitando de certa forma o processo da produção que estava sendo construída a muitas mãos dentro do projeto. Texto, roteiro, imagem, luz, câmera, ação e ali, naquele instante só, via e revia o que eu pensei para meu texto, e o que os colegas traduziram do que coloquei no papel. Foi também um exercício de desapego, de permitir que outras poesias atravessassem a minha escrita. E foi gratificante. É incrível ver como a arte proporciona encontros e possibilidades que de certa forma não aconteceriam em outros contextos e outras realidades. E é nessa arte, neste coletivo, nesta forma de fazer e se deixar refazer é que eu acredito. Não é a arte pela arte. É a arte pelo todo, pela vida, pela natureza, pelo que nos move e pelo que nos paralisa, sempre, todos os dias, com mais ou menos poesia.
Sendo
assim (e enfim), te convido nobre leitor(a) a conhecer meu texto “Tempos de
Asfixia” e em seguida (ou não necessariamente nesta ordem), assistir ao conto
audiovisual e em primeiro lugar, peço licença poética para entrar em seu
instante, e apresentar o meu, hoje, já um pouco diferente do que foi
apresentado naquela oportunidade. É isso, te agradeço imensamente se você me
leu até aqui, e espero nos lermos em outros instantes. Saudações literárias,
com
amor e poesia, Daiana Scaramussa
Daiana Scaramussa é formada em Artes Plásticas
e Jornalismo, tem experiência em ambas as áreas e também atua como atriz no
Espírito Santo. Ilustra, compõe, e escreve textos sobre o que lhe atravessa na
poesia do cotidiano e integra o elenco dos espetáculos cênico-musicais
"Cantarerê" e “Brincantou” do Grupo Estripolia.
Para
assistir o conto “Tempos de Asfixia” acesse o link 👇
https://www.youtube.com/watch?v=FZbTX-yae1Y
Para
conhecer mais sobre a artista Daiana Scaramussa acesse os links 👇
https://www.instagram.com/daiscaramussa/
Para acessar o Grupo Estripolia que Daiana Scaramussa faz parte, acesse os links 👇
https://www.youtube.com/c/GrupoEstripolia
https://www.instagram.com/estripolia/
amei seu conto/vídeo "Tempos de asfixia"! Muito bem escrito, bem sentido e, acima de tudo, bem falado! Sua voz é magnífica! Um verdadeiro dom divino! Siga em frente, minha querida! Boto fé em você por longas distâncias, imensas conquistas! Te amo sempre...
ResponderExcluirMuito obrigada pelo retorno, fico feliz que tenha gostado e me sinto lisonjeada com tantos elogios. Sempre grata.
ExcluirGosto muito da sua escrita, e talvez você tenha contribuído para o meu gosto por escrever também - lembro-me bem da alegria dos jornais com seu trabalho, era uma conquista! -, especialmente sobre as janelas da vida. Obrigada. Amocê.
ResponderExcluirCoisa linda. Muito obrigada por seu comentário, agradeço imensamente por influenciar de maneira positiva a vida de alguém. Beijos.
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