Ser de Palavras


Eu sou um ser de palavras. Reflito isso enquanto penso num rabisco que escrevi a alguns anos atrás, no qual afirmo: Eu sou ser de palavras, sou também demasiadamente redundante, sou mulher, sou negra e periférica e com isso tenho em mim muitas coisas, entre defeitos, traumas, sonhos - mais declaro: a escrita tem me salvado há mais de vinte e tantos anos. Embora eu não tenha a audácia de revelar tudo o que tenho escrito, é certo que as palavras tem me auxiliado neste mundo como é, e está, e desta pessoa pessimista que escreve a fim de expurgar as vivências pessoais e vivências alheias que presenciei. De tudo o que sobrevivi, na escrita eu encontro acalanto.

Já fiz um tanto de coisas. Fui babá, cuidadora, faxineira, acompanhante de idoso, atendente, vendedora, guia, decoradora de festa com balão, recreadora infantil, já cantei, dancei, atuei, contei histórias e em meio a todas essas coisas eu escrevi, e escrevo agora, um pouco perdida nessa minha trajetória.

Eu tive a alegria de conhecer a Lorena com o teatro, tive a oportunidade de trabalhar com ela no início de minha carreira de atriz, e recentemente pude participar do projeto Só Conto Pra Elas, neste período de pandemia onde os encontros têm se realizado online. Foi um momento ímpar, afirmo - porque eu estava há um longo período longe da minha escrita, desanimada e desmotivada. A oficina ministrada por ela, me trouxe uma nova energia. Foram momentos breves e altamente instrutivos. Durante a oficina, produzi o conto Quase Todas as Noites.

A arte que me permeia, tem um lugar de grande destaque em minha vida, mas confesso que tive muito receio ao me declarar artista. Hoje afirmo que sou uma artista periférica e a minha escrita faz parte disso, antes de eu me formar atriz ou qualquer outra profissão ou bico que eu tenha realizado por sonho ou sobrevivência, as minhas palavras escritas já estavam lá, em meus afazeres diários, nos meus cadernos pessoais, em minhas muitas agendas que tenho ainda guardadas, tenho quase tudo escrito.

Poemas, poesias, crônicas, romance? Nunca parei pra me preocupar com métricas ou formatos, eu escrevo apenas “vocês que lutem” um dia para classificar, se isso for de fato importante. Atualmente exponho meus rabiscos (desenhos e escritos) em meu instagram https://www.instagram.com/rabiscosperiferikas/. Chamo de rabisco pois cheguei à conclusão de não que sejam produtos inacabados, mas pelo simples fato de que eu não busco a perfeição simetria ou normas, não me prendo, ou melhor nunca me prendi a regras formais, pois quando faço um rabisco, quer seja este uma escrita ou desenhos eu apenas me deixo ir… Assim como este texto que eu pretendia escrever de outra forma, outras palavras talvez... A arte em mim é um expurgo. As palavras me são. Tenho também um blog antigo: https://lualacuna.blogspot.com/?zx=21a0bc97e1c8cf44 e caso tenham curiosidade em me ler, não esperem muito deste que também é um rabisco. Uma vez ou outra vou lá, dou uma olhada, me leio, e posto algo. Já pensei em me desfazer dele, mas o blog está lá, fique à vontade.

Por fim, mas não menos importante, me apresento novamente, Sou Luiza Vitório, mulher negra, capixaba, artista periférica e aproveito a arte - esta que está em mim, e que é tão latente na Lorena, mulher maravilhosa, que novamente me dá a oportunidade de expor a arte que tenho.

Evoé artistas! Vocês têm me salvado, como diz um texto dramático: “Desde os tempos imemoriais. E eu tenho a sutil impressão que não sou a única.”

Luiza Vitorio é artista periférica, capixaba formada pelo curso técnico em artes cênicas através Escola Técnica de Teatro e Dança FAFi em Vitória/ES. Participou de grupos teatrais, atuou em espetáculos, filmes, curtas e documentários. Participou de publicações literárias como poeta, ilustradora e também é administradora, ilustradora e escritora da página @rabiscosperiferikas onde expõe ilustrações e poesias, e também do blog lualacuna.blogspot.com .

Para ler o meu conto Quase Todas as Noites, acesse o link 👇

https://www.instagram.com/p/CMuR1bnjwFw/?utm_source=ig_web_copy_link


 

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