A Casa Como Palco

 

Quando recebi o convite para escrever um artigo para você, leitor, confesso que fiquei imensamente feliz em poder compartilhar um pouco sobre mim e também sobre o meu processo percorrido na Mostra de Contos Audiovisuais.  No início de todo esse momento histórico que se iniciou em março de 2020, pensei inúmeras vezes que este não era o momento mais propício para os fazedores de arte que prezam o olho no olho, mas pude perceber logo que não era também o momento mais impossível. Já que não podíamos estar próximos uns dos outros, nos restou a possibilidade de usar e abusar das múltiplas funções que a tecnologia nos proporciona.

Antes que eu me esqueça, preciso me apresentar. Sou Dê Jota, tenho 23 anos de idade e me formei no ano de 2017 no curso técnico Teatro Universitário da UFMG e sou também estudante do curso de graduação também pela Universidade Federal de Minas Gerais. Sempre costumo pensar que nós artistas nos desdobramos em vários, para realizar nossos sonhos através da arte. Portanto, sou uma porção de coisas. Sou ator convidado do Grupo Maria Cutia no espetáculo Auto da Compadecida, que é concebido e dirigido por Gabriel Villela e também faço parte a Cia Dois em Um. Pretendo neste texto comentar um pouco sobre minhas vivências durante a criação do conto “Casulo” e a transposição do mesmo para o audiovisual.

Uma incrível oportunidade que tive nesse período de isolamento social, foi compreender um pouco mais sobre as noções de real e virtual. Pois a virtualidade não necessariamente faz com que a obra de arte proposta não seja real. É real. E é também virtual. Para Levy:

Em seu uso corrente, o termo virtual se costuma empregar para expressar a ausência pura e simples de existência, pressupondo a ‘realidade’ como uma realização material, uma presença tangível. [...] A palavra virtual procede do latim medieval virtualis, que por sua vez deriva de virtus: força, potência. [...] Com todo rigor filosófico, o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual: virtualidade e atualidade só são duas maneiras de ser diferentes. [...] O possível é idêntico ao real, só lhe falta a existência (Levy, 1999, p. 10)

No início, muitas dúvidas. Será a morte do teatro presencial? O teatro online é capaz de substituir o teatro presencial? Com o passar do tempo fui encontrando algumas respostas e consigo afirmar que não é a primeira vez que o teatro passa por uma fase conturbada em sua história. E apesar dos desafios, ele nunca deixou de se reinventar e de resistir. Não tem como substituir nada. Cada um é cada um. Sendo assim, me vi na obrigação de ampliar meu olhar sobre as novas formas artísticas. No início, houve um certo estranhamento, claro. Antes, tentávamos aproximar a tecnologia do palco, porém agora o que é válido é justamente o contrário. É importante frisar que o teatro digital não é algo completamente novo. Desde de a década de 70, artistas já vinham pesquisando formas e caminhos de virtualizar a arte. Porém, agora somos convidados a exercer nossa arte de uma forma mediada pela web. Uma nova possibilidade um tanto quanto tentadora. 

Depois de todas essas descobertas que foram acontecendo com o passar dos meses, surgiu a oportunidade de participar da Mostra de Contos Audiovisuais. Uma experiência um tanto quanto tentadora. O que mais me chamou a atenção quando me inscrevi para participar dos encontros online foi o tema: dramaturgia auto ficcional. Diante do novo termo surgiu em mim uma estranha curiosidade em encontrar novas possibilidades de falar sobre minhas inquietações de uma maneira ficcionalizada ou não.

            Pude então, durante o percurso da oficina, conhecer um pouco mais sobre outras pessoas e pude perceber o quão parecidos estávamos ou estamos diante de tudo que tem acontecido. Uma sensação pluralizada, cheia de camadas e nuances. Um dos primeiros passos da oficina era justamente a criação do nosso conto, pois, nessa etapa nós que estávamos participando das oficinas, pudemos tirar as ideias da cabeça e transportá-las para o papel. Eterniza-las em folha e caneta. A principio o que poderia ser um bicho de sete cabeças, se transformou em um delicioso momento de reflexão e compromisso com o tempo e a palavra. Desse momento, nasce o meu conto CASULO.

            É também necessário ressaltar a importância dos processos colaborativos e da arte que só se realiza em conjunto. As etapas de produção dos contos foram imprescindíveis. Passamos por vários momentos mentorados, como: a escrita do conto, a roteirização, a escolha dos locais para serem filmados, o olhar sensível para a iluminação presente em nossa casa e a gravação das imagens. Vi acontecer a transformação de um espaço de uso não convencional em uma espécie de palco. E isso foi muito especial.

No entanto, não poderia finalizar este texto sem agradecer imensamente ao grupo Beta de Teatro por estarem tão entregues, interessados e envolvidos com esse projeto tão bacana que tive a oportunidade de participar de maneira ativa. A participação de todos os envolvidos foi muito importante para que pudéssemos vivenciar esse processo de criação e desenvolvimento de um produto final.

Dê Jota é ator formado pelo Teatro Universitário T.U/ UFMG (2017) onde formou com a peça “Os Negros”, dirigida por Rogério Lopes. Atua como pesquisador, roteirista e locutor do projeto de extensão da UFMG Teatro no ar . Atualmente é graduando em Artes Cênicas pela UFMG e atua no espetáculo "Auto da Compadecida" do Grupo Maria Cutia e com direção e concepção geral de Gabriel Villela, que já circulou por diversos estados do Brasil. Dê Jota fez também a direção do espetáculo Sítios apresentado no II FIMC - Festival Internacional de Máscaras do Cariri - Ceará.

Acesse o link abaixo para a leitura do conto CASULO 👇

https://medium.com/@djotatorres/casulo-68b2f14e1d47

Acesse o link abaixo para assistir o conto CASULO, que faz parte da I Mostra de Contos Audiovisuais/2021 👇

https://www.youtube.com/watch?v=5uI7g5IANmI&t=237s



 

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